Harmonia, harmonia!
Ensandeço com músicas frenéticas
De elétricas guitarras e metais
Tangidos como cacos de cristais!
Eu quero é canto lírico e de galos,
De andorinhas, de gente que se cala,
Vazando sobre os vãos dos intervalos...
Não pretendo apagar o que eu faço,
Nem posso me querer o que disfarço,
Mas minha mente, agora já impaciente,
Exige que eu só voe em harmonias,
Que me vista de mares, dia a dia,
Que me dispa dos meus lerdos espasmos
E de mim, jorre apenas o orgasmo;
Que me desate dos mornos espantos,
Que eu seja canto, mato, nuvem, rios,
Que, nestes tempos de tédio e fastios,
Lance, do meu ser, o tom dos sentidos,
Capte todos bemóis e sustenidos
Em tardes de visões quentes, de alívio,
E que, na vibração da melodia,
Fonte do tudo e do nada profanos,
Onde, sem pressa, vive a solidão,
Eu me vergue sob a magia de um piano,
Acariciado por uma canção,
No deslizar dos sons e poesia
De feiticeiras e suaves mãos...
Porto Alegre/RS, 1996/2009